Foto: Agência Senado
Brasília foi erguida no vazio e seco cerrado do Planalto Central sob o slogan do presidente Juscelino Kubitschek, “50 anos em 5”. A capital, que brotou do nada em três anos, surgiu dos traços de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. É uma cidade patrimônio-histórico que possui mais de 2,7 milhões de habitantes.
“ No princípio era o ermo...
Eram antigas solidões sem mágoa,
O altiplano, o infinito descampado...
No princípio era o agreste:
O céu azul, a terra vermelho-pungente
E o verde triste do cerrado.”
Trecho da “Sinfonia da Alvorada”, Vinícius de Morais
A inauguração, em 21 de abril de 1960, era a realização da aventura criada por JK, que exigiu uma visão ampla e corajosa, já que estava distante de todos os centros urbanos.
Logo após assumir a presidência do Brasil, JK deu o primeiro passo para que fosse construída a nova capital no país. Cumprindo uma promessa de seu primeiro comício como candidato da coligação PSD-PTB à Presidência da República, em Jataí - sertão goiano - em 4 de abril de 1955.
"Cumprirei na íntegra a Constituição. Durante o meu quinquênio, farei a mudança da sede do governo e construirei a nova capital.”
Juscelino Kubitschek, candidato à Presidência.
A ideia de construir uma capital federal não era nova, vinha da época do Império, porém pouco foi feito para retirá-la do papel. Mas, em 1956, Kubitschek enviou o projeto ao Congresso Nacional.
Após a resistência de parlamentares da oposição, o projeto transformou-se em lei. Este fixava os limites do novo Distrito Federal e autorizava a criação da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Outra lei, de 1º de outubro, fixou a data da mudança da capital para 21 de abril de 1960. A oposição acreditava que a missão era impossível e que o presidente acabaria desmoralizado.
No dia 2 de outubro de 1956, JK embarcou com uma pequena comitiva para conhecer pela primeira vez a região que se tornaria a capital do país. Nessa visita, ele deixou uma frase que ficou célebre e está gravada no mármore do Museu da Cidade, na praça dos Três Poderes:
"Deste planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino."
A construção da cidade
Em 3 de novembro de 1956, sob o comando do engenheiro Israel Pinheiro, presidente da Novacap, os tratores começaram o trabalho de terraplanagem.
No Rio de Janeiro, em março de 57, uma comissão julgadora formada por urbanistas brasileiros e estrangeiros escolheu o melhor projeto para a nova capital. No Plano Piloto, de Lucio Costa, tudo estava organizado em torno de dois eixos dispostos em cruz. Brasília "nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal-da-cruz", disse o urbanista Costa.
Muito tempo antes de Lucio Costa vencer o concurso, Brasília já aparecera em esboços, diversas vezes com as avenidas monumentais, típicas do modernismo na arquitetura, que a tornariam conhecida.
Foto: Mario Fontenelle/Arquivo Público do Distrito Federal
Imagem dos dois eixos tirada pelo fotógrafo Mário Fontenelle a bordo de um monomotor. Brasília, 1957.
Como o tempo era curto para que a construção fosse concluída, a região ficou repleta de candangos (como eram chamados os operários), a maioria vinha do Nordeste em busca de trabalho. Em abril de 1957 eles eram 10 mil; três anos depois, 60 mil.
Foto: Arquivo Público do DF
Candangos desembarcam na Cidade Livre.
Foto: Agência Senado
Candangos
Texto de Juscelino Kubitschek:
"Sobrevoando o Planalto é que se tinha uma visão de conjunto dos trabalhos que ali estavam sendo realizados. Caminhões iam e vinham, levando ou trazendo material de construção. Tratores, às dezenas, revolviam a terra, abrindo clareiras no cerrado. Estacas eram fincadas, para ereção dos andaimes que emprestavam à paisagem o aspecto de um gigantesco canteiro de obras. Aqui e ali, já se viam as torres metálicas das estações de telecomunicações, através das quais centenas de mensagens eram enviadas, pedindo cimento, cobrando remessas de material elétrico, exigindo jipes, caixas-d'água, tambores de gasolina, gêneros enlatados, peças de veículos.
Era um mundo que despertava no cerrado, ressoante de sons metálicos e estuante de energia humana. Os guinchos bracejavam junto aos andaimes, erguendo pedras e assentando vigas. Crateras eram abertas por toda parte, e, por elas, desapareciam toneladas de concreto. Martelos batiam, sirenas soavam, motores roncavam, enchendo o chapadão de ruídos estranhos. Ao longo das estradas de chão, ainda vermelhas da terra recém-cortada, enfileiravam-se as armações de pinho que iriam receber ou já haviam recebido os vergalhões de ferro que dariam consistência às vigas de cimento armado. Por toda parte, homens trabalhando, engenheiros consultando plantas, veículos despejando material".
Os adversários do presidente duvidaram que a construção terminasse no prazo. Porém, os prazos foram realizados. Em um ano foi inaugurado o Palácio da Alvorada (junho/58). Do mesmo ano são o Palácio do Planalto, as duas cuias, os prédios do Congresso Nacional, a praça dos Três Poderes e os edifícios dos ministérios.
Em nenhum momento JK perdeu o humor e a tolerância, e para ele os cinco anos de mandato foram 50 anos.
Inauguração de Brasília
Na manhã de quinta-feira do dia 21 de abril de 1960, Juscelino Kubitschek tinha uma agenda com muitos compromissos, entre eles, recepcionar embaixadores estrangeiros e presidir uma reunião do ministério. Seu primeiro ato oficial foi a assinatura da proposta da criação da Universidade de Brasília.
Naquele dia houve muita comemoração com parada militar, desfile de candangos, bailes improvisados nas ruas, queima de fogos. JK percorria as avenidas em carro aberto, enquanto a Esquadrilha da Fumaça se apresentava no céu. À noite, um baile de gala foi realizado para 3 mil convidados no Palácio do Planalto, ao som da orquestra do pianista Bené Nunes.
Foto: Arquivo Público do DF
População na inauguração.
Foto: Arquivo Público do DF
Baile de gala no Palácio do Planalto
No livro de memórias Por que Construí Brasília, JK escreveu o que pensava da conquista de uma terra vazia do Brasil. Neste trecho ele comenta:
"Há quem confunda pioneiro com bandeirante, já que ambos fazem do desbravamento sua atividade habitual. Entretanto, uma diferença enorme os distancia. O bandeirante descobre e passa à frente. Sua sina é avançar. Finca um marco. Poda uma árvore. Faz um monte de pedras. É tudo que deixa, como sinal de sua passagem. Trata-se de uma imagem fugidia. Brilha, e desaparece. Já o pioneiro é influenciado pela atração da terra. Descobre e fica. É um símbolo do que se projeta através de um ânimo de permanência. A jornada pode ser longa, mas a parada – quando ocorre – é quase sempre mais longa ainda. Planta e espera pela colheita. Não deixa sinal de sua passagem, porque ele próprio se detém. E do seu rastro, que por algum tempo foi efêmero, brotam valores duradouros: povoados, que se transformam em vilas; vilas que se convertem em cidades; e cidades que armam a estrutura de uma civilização".
Oscar Niemeyer
Foto: Arquivo Público do DF
O arquiteto Oscar Niemeyer no escritório da Novacap observa a maquete de Brasília.
“Nossa arquitetura tem como objetivo a beleza plástica, a surpresa arquitetural, o vão maior. Procura a forma livre, a curva sensual que o concreto armado sugere”.
Oscar Niemeyer
Personagens principais da construção
Um verso publicado pelo Correio da Manhã, em 12 de setembro de 1958, descrevia o papel dos três personagens mais importantes da construção desta que seria a capital do país:
"O açúcar e o mel são filhos de Israel.
A carne e o pão são filhos do Sayão.
E o resto?
É do Ernesto."
Israel Pinheiro: engenheiro e presidente da Novacap.
Bernardo Sayão: construtor de estradas, responsável pela Belém-Brasília.
Ernesto Silva: pediatra por formação, recebeu a comitiva de JK na primeira vez em que este pôs os pés no cerrado onde está a capital.
Crise em Brasília
Brasília completa 50 anos em meio a escândalos políticos e com uma lista de obras por terminar. A cinquentona que brotou do nada em apenas três anos é hoje o palco de escândalos políticos, com dinheiro desviado e escondido, literalmente, na meia.
Apesar de ser uma cidade artificial criada no papel antes mesmo de ter pessoas, apresenta todos os problemas do Brasil, principalmente a corrupção.
Olá sou design de moda e estou pesquisando sobre hist. de Df. Gostei muito do post.
ResponderExcluirEstou te seguindo e se possivel faça uma visitinha ao meu blog.
Abços
www.claudilicearagao.blogspot.com
Olá Camila,
ResponderExcluirParabéns pelo Blog e pelas fotos, em especial a do Oscar Niemeyer e a maquete do Palácio da Alvorada, rara de se encontrar !
Voce sabe que fez esta maravilhosa maquete ? Pois bem, acho que ninguém sabe, é uma pena !
Foi o jovem francês parisiense, Guy DIMANCHE, extremamente talentoso que fez TODAS as maquetes de Brasilia nos anos 50, e sua primeira obra de arte foi justamente o Palacio da Alvorada ! Acho que já é tempo de falar um pouco dele, se não vai acabar esquecido como muitos que participaram da construção de Brasilia não é mesmo ?
Leia o Boletim de sua filha Yvonne Dimanche sobre seu pai Guy DIMANCHE e veja na foto quem é Guy DiMANCHE, o maquetista oficial do Oscar Niemeyer:
www.oboletim.com.br/colunistas/yvonne.html e
procure as colunas anteriores. Ela foi postada no dia 10 de julho 2011 com o título Joanna de Angelis. O Guy DIMANCHE esta com 91 anos e respira saúde na França onde vive.
Parabens mais uma vez,
Joanna A Dell'Eva
Fortaleza, 20-6-2011
Olá Camila, sou Yvonne Dimanche que foi mencionada acima pela querida Joanna Dell'Eva. Adorei o seu post e fiquei feliz em mais uma vez tomar conhecimento sobre a magnífica história da construção da capital do nosso país.
ResponderExcluirAbraços
Ônibus da gloriosa UTIL monobloco proximo ao Palacio do Planalto na festa de inauguração de Brasilia.A UTIL enviou DEZ ônibus sendo dois da coligada Viação Boa Vista em foto no Museu de Brasilia ônibus GM Chevrolet bustuda num.16.Atualmente a UTIL atende linha regularmente do Rio e Juiz de Fora.
ResponderExcluirMarcos Ribeiro